domingo, agosto 20, 2017

Me sinto.

Estou
No meio
Da multidão.

Meu corpo
O corpo da terra
O corpo do mundo.

Um só lugar.



-

Com as mãos voltadas
Pra cima
Sinto tocar-me
Como pegar-me mesmo
O vento.

Uma coisa não - coisa
Nada - tudo

O vento é como o tempo.
-

Enquanto passeio
A paisagem me afeta
O verde musgo
A água suja no rio

Mato onde não dá pra construir ainda
Mato onde alaga
Mato ocupado
Por bicho por gente

As calçadas finas.

Quebradiças
Tão sensíveis atualizações.

Picadas urbanas.

-

Eu retomando um lugar
Ressentindo sabores e
Esquecendo que era tão bom
Ter voz.

Escutar o pensamento respirar
no seio da madrugada.
A noite me nutre
De seu enigma amoroso.

Eu neste espelho denso
Onde as luzes
Da cidade
Da própria vida
No escuro
Seus brilhos
Me lembram

Você não está sozinho.



terça-feira, fevereiro 14, 2017

Tão descansado
e sem pressa
quanto o gato que
é o dono da paisagem,
continuo notando
os detalhes que
se apresentam fora
de mim.

O vento bate por
todos os lados
da casa.
Não fossem as paredes
já teria sido descoberto.

As obrigações
estão suspensas
até a próxima lufada.
O trampo da camisa séria
num escritório descontraído
é bem legal mesmo.

Pena que ganho pouco lá.
Se estou realizado? Estou.

Mas realizado mesmo
só estarei depois,
depois de morto.

Vou realizando o que posso
e vou rindo.
Legal mesmo seria
realizar o impossível.

segunda-feira, novembro 21, 2016

Quem é o sujeito além do objeto? Da relação?
Tu perguntas.

Estes encontros
dos espelhos
dos olhares
que revelam o diverso - outro
a beleza
de nossos corpos.

Passo horas ao lado de tua voz,
algumas meias verdades
e és o espetáculo por si só.

Coloco - me num lugar em que
te aproximo daqui - e ficas.
Atraído pelo rastro,
como uma fera jovem.

Sonharei contigo esta noite?
Porque há como negar algo nítido.

Voltas hoje sentindo - se rei
porque fostes o mais marcado.
Tua beleza é uma idéia, uma matéria forte.
Não acharia o contrário.

Queima uma chama leve no chão desse sonho. O universo explodiu estrelas.

Tu perguntas: por quê?

segunda-feira, maio 09, 2016

Não a passagem.
Mas a permanência.
Nem frutos
mas raízes
profundas.

Que dão vigor à árvore.

Tem uma mágica o distanciamento:
posso ver a paisagem.

Os ramos e a copa.

Mas a vida continua uma miragem
e é trágica tua ausência na moldura.
Quero você no meu sonho.

É grave como trovoada a dor aguda que
causo ao te deixar a chuva das lágrimas.

Urgente vivo e assim descubro
como ser mais contigo.

Melhora e brilha meu crânio: se digo estar bem e minto,
nego algo afirmando outro som escondendo o que sinto.

A vida aumenta sua demora sem tua presença.

Saltam aos sentidos dos meus olhos saudosos
os detalhes de teu corpo: campo bem desvendado.
E reconheço: não posso, não quero brincar mais com isso.

Estás inscrito na pedra fundamental do meu coração.
Não há tempo, água ou memória que retire
o crivo do teu amor de meu peito.


Por favor, fica. 

sábado, abril 09, 2016

Ai, sim, amor - apita a TV -
eles tentam vender qualquer coisa
a essa hora, de tudo.
Tendenciosos! E ainda assinam!

Por outro lado, estouram bolhas
onde estão as palavras
que não conseguimos falar.

Como não entrarão em nós os seus pneus,
aqui ó? E passarão rapidamente.

u-n-b-i-a-s-e-d

Sondarão tudo: (não) acharão nada
unbiased.

Nossos tradutores gritam na varanda porque
sempre saberão o barulho que faz a máquina.
E não dirão: para alguns
é preciso devir flores noturnas
sobre a tampa fechada.